Analista queniano afirma que TPI deve superar raízes eurocêntricas

Tribunal Penal Internacional precisa ampliar referências além de raízes eurocêntricas, diz analista queniano

Em alusão aos 80 anos dos Julgamentos de Nuremberg, Teddy Odira sustenta que o mundo afastou o espírito que moldou a justiça internacional moderna — e a África paga a conta.

Às vésperas de um marco histórico para o direito global, o papel do Tribunal Penal Internacional (TPI) volta a dividir opiniões e acena para uma reavaliação que envolve autoridades, estudiosos e leitores curiosos sobre o que acontece no palco da justiça mundial. O contorno dessa discussão ganha novas leituras quando especialistas como o pesquisador Teddy Odira, do Quênia, lembram que o tribunal precisa caminhar para além de referências que ainda são fortemente associadas a uma visão eurocêntrica.

Odira, que atua tanto como pesquisador jurídico quanto como analista político, sustenta que o TPI ainda carrega um vestígio das raízes eurocêntricas que moldaram sua estrutura e seus procedimentos. Segundo ele, esse enquadramento não é apenas histórico; na prática, ele condiciona vozes, prioridades e formatos de atuação. Em síntese, a justiça internacional corre o risco de perder parte de sua legitimidade ao não incorporar outras experiências jurídicas e perspectivas regionais.

Na visão do analista, o espírito que guiou os Julgamentos de Nuremberg — um marco que fez escola para a justiça internacional moderna — vem sendo interpretado de maneiras que não refletem plenamente as realidades de boa parte do mundo. Por isso, a mudança que Odira defende é menos sobre revogar o passado e mais sobre ampliar o alcance de quem participa das decisões, contribuindo para uma obra mais plural e efetiva.

Além disso, o debate não fica apenas no terreno conceitual. Odira aponta que a África, entre outras regiões, tem enfrentado consequências diretas de uma condução que não dá espaço suficiente a vozes diversas no cenário das investigações e das ações do TPI. Não se trata apenas de inclusão simbólica: trata-se de assegurar que políticas, prioridades e respostas a crises respondam a uma pauta mais ampla de impactos globais.

No contexto dos 80 anos dos Julgamentos de Nuremberg, a reflexão sobre o papel do TPI serve como convite para revisitar estruturas, estreitar parcerias e criar espaços de participação que reconheçam a diversidade histórica do mundo. A ideia é tornar a justiça internacional menos dependente de um único conjunto de referências e mais capaz de dialogar com experiências distintas, sem abandonar princípios fundamentais de responsabilidade e reparação.

No fim das contas, a proposta de Odira busca tornar a justiça global mais inclusiva e representativa. Se de um lado isso exige coragem institucional para reformular prioridades, de outro lado promete consequências positivas para vítimas, países e sistemas judiciais, que passam a enxergar um arcabouço jurídico mais equilibrado e eficaz. A pergunta que fica é simples: as regras da justiça mundial podem, de fato, acompanhar a pluralidade do planeta no dia a dia?

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